Junho de 2013 já fez história. É provável que, daqui a algumas décadas, brasileiros que tomaram as ruas do País no final do outono deste ano se reúnam num café, num boteco ou mais possivelmente na timeline de uma rede social para recordarem, cheios de orgulho, “daquele junho de 2013”. Quando se formaram multidões que, de um modo contraditório, pareciam gigantescas afirmações de individualidades. Com seus rostos únicos, bandeiras variadas, gritos independentes e gestos singulares. A completa expressão do novo. Daquilo que ninguém ousou prever e do futuro que ninguém assegurou adivinhar. Esses brasileiros se sentirão como a geração de 1968, que ainda cultiva as lembranças das heroicas passeatas contra a ditadura, como os manifestantes de 1984, que se emocionam com as imagens dos comícios das Diretas-já, e como os caras-pintadas de 1992, que decretaram o fim de um governo corrupto. Não se pode subestimar o que já aconteceu nem convém ignorar o que ainda possa vir. Nas duas últimas semanas, com suas diferentes tribos e interesses assumidamente difusos, jovens emergiram das redes sociais, conseguiram levar mais de um milhão de pessoas às ruas, deixaram a classe política atordoada e fizeram com que prefeitos de 13 capitais e 65 cidades anunciassem a redução das tarifas do transporte público. A voz das ruas, que parecia anestesiada, se impôs. A opinião pública revelou sua força. Mesmo sem uma grande causa aglutinadora, fez reverberar por todos os cantos do País uma insatisfação latente que o poder institucionalizado desconhecia. Pelo menos 480 cidades participaram dos protestos. Os manifestantes transformaram as principais avenidas brasileiras em verdadeiros bulevares da liberdade de expressão. A nação acordou e, com o recuo dos governantes, descobriu que, sim, é possível provocar mudanças.
(Adaptado de: PARDELLAS, S. Especial A Voz das Ruas. IstoÉ. São Paulo: Ed. Três. 26 jun. 2013. ano 37, n.2275. p.50.)
No trecho “Não se pode subestimar o que já aconteceu nem convém ignorar o que ainda possa vir”, a palavra em destaque atribui ao enunciado o sentido de